Da minha janela azul
A serra é inteiramente minha
Sua capela histórica se torna ainda menor
E mora dentro da minha paisagem
É um quadro em movimento de nuvens
Que descortinam nuances da natureza
Acordar aqui já me valeu a vida
A luz do verso tem um coleiro ao fundo
Pássaros e calangos tomam café comigo
Quando a tarde vem deitar o dia
É o trinca-ferro que vem chamar a noite
Leio até me arderem os olhos
Os tratados da minha geografia
Alguma parca poesia pequena
Que precisa de pouco a dizer do grande mundo
Sento solitário na parte alta da casa
E observo o vento e a dança dos arbustos
Algum tucano rema deslumbrante
E corta o azul do céu
E assim se esvai o dia
Alguma cerveja
Algumas cerejas
Pão-de-canela
Amasso um queijo
Sou um poeta das massas
Das pequenas e das grandes massas
Do minimalismo estético
À exuberância bucólica
Das viagens e das comidas
Em seus amplos sentidos.