No meio do caminho
Dormia uma grande pedra
Onde a água espuma a miragem
O índio desce percorrendo a Serra
Com o rio a desaguar por suas entranhas
Rasgando a gruta sagrada
Cuspindo cachoeiras
Que entornam delícias
E vai de mergulhos fundos
Tragando suas encostas
Assentando em seu dorso
Arrepiando suas bromélias
Com o céu a assistir aberto
Teus movimentos curvos
E como o sangue
E como a água
E como a pedra
Rio e entorno
O pó de flor
Que semeia a caverna
É como se a pedra pudesse cantar
A canção do índio sobre a pedra
Com o rio o dançar por sua gruta
Atravessando toda serra
Lentamente descendo
Fustigando seu remanso fundo
A espreita do sol
A vontade de lua
Abrindo caminho
Como a cachoeira que desce.