Mas diferente do seu café, a vida lhe era doce como cada
bolo coberto de confeito na gôndola.
Na esquina de frente à padaria havia um departamento de tecidos
de fino corte e uma atendente de toque delicado que vendia e dobrava roupas e a
elas se misturava, como manequim, modelo e sutileza.
Ariquemes acompanhava seu café amargo com olhar pujante a cada
movimento doce da moça e um dia arriscou um corte. Para sua surpresa, Ana o conhecia bem mais que este
imaginava. Apesar de noiva, a moça imprimiu junto à balconista da confeitaria
uma pequena biografia sobre o moço. Olhares atravessadores, atrevimento, bicho
solto.
- Bom dia Ariquemes. Não põe açúcar no café? Como consegue?
- Sou de Poços de Caldas, no Sul de Minas. Lá não fervemos a
água e aprendemos desde novo degustar o amargor delicioso do café. É uma arte.
Trocaram telefone.
Palavras.
Poemas.
Fonemas.
Parábolas.
Bilhetes.
Suores.
Perfumes.
Noites proibidas.
Tomaram café amargo e sorriram.
Ana se casou com o noivo.
E toda vez que senta à mesa de uma cafeteria responde que
não precisa de açúcar.
Tampouco adoçante.