quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

DOCES

Ariquemes tomava café sem açúcar todos os dias na confeitaria do centro da vila.

Mas diferente do seu café, a vida lhe era doce como cada bolo coberto de confeito na gôndola.

Na esquina de frente à padaria havia um departamento de tecidos de fino corte e uma atendente de toque delicado que vendia e dobrava roupas e a elas se misturava, como manequim, modelo e sutileza.

Ariquemes acompanhava seu café amargo com olhar pujante a cada movimento doce da moça e um dia arriscou um corte. Para sua surpresa, Ana o conhecia bem mais que este imaginava. Apesar de noiva, a moça imprimiu junto à balconista da confeitaria uma pequena biografia sobre o moço. Olhares atravessadores, atrevimento, bicho solto.
- Bom dia Ariquemes. Não põe açúcar no café? Como consegue?
- Sou de Poços de Caldas, no Sul de Minas. Lá não fervemos a água e aprendemos desde novo degustar o amargor delicioso do café. É uma arte.
Trocaram telefone. 
Palavras. 
Poemas. 
Fonemas. 
Parábolas. 
Bilhetes. 
Suores. 
Perfumes. 
Noites proibidas. 
Tomaram café amargo e sorriram.

Ana se casou com o noivo.


E toda vez que senta à mesa de uma cafeteria responde que não precisa de açúcar. 
Tampouco adoçante.